Invertendo MPB, temos duas coisas. Primeiro, temos uma música de péssima qualidade; segundo, temos uma sigla diferente: PMB – Putaria [Não] Musical Baiana. Embora não seja propriamente novo, esse estilo vem atraindo inúmeras polêmicas, vem figurando entre os temas mais discutidos e é, sem dúvidas, um baita problema.
A Bahia é o berço musical do Brasil. Esta afirmação torna-se indiscutível quando citamos que daqui saiu o samba, João Gilberto [Bossa Nova], Gil e Caetano [Tropicalismo] e, mais recentemente, o Axé Music. Isso sem citar que daqui também saíram Bethânia, Gal, Ivete, Chiclete, Cláudia, Brown... Esqueci-me de alguém? Muitos, né?!
Contudo, nos últimos anos a terra da música, de uma cultura ímpar vem abrindo espaço pra uma tendência, no mínimo, perigosa.
O chamado ‘pagode baiano’, ou, simplesmente ‘swingueira’ constitui-se, basicamente, de um ritmo –espetacularmente – dançante e rico, em contraste com suas de letras medíocres, porcas e de caráter extremamente ofensivo, juntamente com suas coreografias lotadas de erotismo, que denigrem o sexo como relação amorosa e rebaixam os seus dançantes, racionalmente falando, a um nível de ridicularidade e insensatez.
Caso fosse apenas ritmo, a swingueira seria de uma riqueza tremenda. Sim, porque até o mais sisudo velhinho, ou o mais rabugento jovem, até os mais nerds, tem o corpo balançado, automaticamente, quando ouvem o pagode tocar. Até os mais experimentes críticos, conhecedores, músicos propriamente ditos, reconhecem isto. Caetano disse que o pagode é massa!
Mas, não o é. O que tem de riqueza de ritmo, tem também de pobreza na letra.
Por isso não considero o pagode como música. Na minha [leiga e pessoal] classificação, música tem que unir ritmo, letra, melodia e sentido. Não qualquer tipo de sentido, mas aquele que faça com que fiquemos fascinados; seja por já termos vivido aquela situação, seja por despertar sensações que gostaríamos de viver, e etc.
As letras associadas à esse ritmo, quase sempre, empregam um segundo, terceiro, quarto sentido, quase sempre associados ao sexo, denegrindo–o e manchando a imagem física e psicológica do sexo feminino. E isso não vem de hoje… Quem não se lembra dos clássicos versos: “Agora que tá bom, agora tá bonito, é que chegou o Chico Rola no forró do Zé Priquito…” ? Ou destes: “Me dá o toin, que eu te dô 10 conto…”. Inúmeras outras, precursora do Pagode Baiano.
As letras, quase sempre, mostram a inaptidão, ou a própria maldade de quem as faz. São deprimentes, se analisadas longe do ritmo. Mas, não é isso o que as pessoas conseguem fazer. Por mais que não gostem, que critiquem, o ritmo atrai, faz dançar, mexer. E a letra condena. E, influenciada pela união de opostos que são letra e ritmo, nasce algo mais bizarro ainda: a coreografia. Resumida em uma única palavra: triste.
Discorda? Pare, pense. Consegue? Então, sigamos. Sente-se numa cadeira, de frente pra duas pessoas que estão dançando... Com algodão, ou qualquer coisa do tipo, isole acusticamente os seus ouvidos. Fez? Então, agora, preste atenção. Aguce o seu senso crítico – caso tenha um. O que você vê? O que você realmente vê? É bonito?
Não, não é. É triste. É feio. E como os grandes feitos ou são frutos de extrema burrice, ou de extrema inteligência, a letra mostra realmente isso. Ou são burros demais, em não saber escrever uma letra, ou são extremamente inteligentes de não querer ela. Burrice ou inteligência?
Por que o ritmo alucina – e isso só pode ter vindo da inteligência – e a letra atrai a má crítica – e isso só pode ter vindo da burrice; Chego a uma conclusão: Isto não é um grande feito. Nem de perto é. Como uma música de apenas refrão não pode ser. É um perigo.
Sim, um perigo. Porque com essa sedentarização que é imposta ao nosso pensamento, é um verdadeiro golpe na cultura. Cada vez mais nascem músicas sem letra, sem sentido – propriamente pensante – e, cada vez menos, se vê a verdadeira essência da música => a mensagem que se passa. E, impensantes, sem inteligência, nada podemos fazer.
O que se percebem é que se quer nivelar para baixo. E, a indignação que tive, quando vi aparecerem os monstros do pagode no Fantástico, dizendo que era tudo ‘normal’, que as mulheres ‘gostavam’ e que não havia maldade, traduzo aqui hoje, neste artigo. É mentira! Eles não se importam com a arte. Importam-se com as cifras. E só.
Torço pra que o Sertanejo Universitário, o Forró, a própria MPB, o Samba, o Pagode tomem outras vertentes ao da swingueira. Invistam nas letras, nos sentimentos, nas situações que valem a pena se mostrar como arte. Não caiam na ilusão de que música foi feita somente pra se cantar. É mais do que isso: é traduzir para inúmeras, milhares, de pessoas uma mensagem.
Rezo pra que os monstros da nossa música (Ivete, Chiclete, Cláudia, Paula, Luan...) continuem à pleno vapor. Rezo pra que os mitos da nossa música (Chico, Roberto, Gil, Milton, Lulu...) ressuscitem e voltem a produzir, voltem a mostrar como é que se faz! Rezo pra que o mito Caetano continue à todo o vapor, mostrando – dando o exemplo – de como se pode ser mito, e produtivo ao mesmo tempo.
E, falando em Caetano. Não sei dos motivos dele ter dito que o pagode é massa. Talvez goste. Contudo, prefiro acreditar que foi de encontro à censura. Porque, pior do que tudo o que se diz contra o pagode, pior do que tudo o que se faz com o pagode, é pensar em censura. O Brasil não merece isso! Todos tem o direito de se expressar livremente. As consequências disso são outros 500. Mas, tem. E ninguém pode tirar esse direito.
Censura?! Nunca. Eduquem nas escolas, façam pensar. E, então, teremos, novamente, revoluções musicais e boa música, para todos. O que vocês acham? Erratifiquem!