21 julho 2012

Greve!

      A greve dos professores das universidades e institutos federais completou, no último dia 17, exatamente dois meses. Lembro que, alguns dias antes dela ser deflagrada, comentei em uma das salas da Federal do Recôncavo que achava que ela não aconteceria; dei alguns argumentos e citei uns exemplos, como um bom estudante do curso de jornalismo.

     Mostraram-se erradas as minhas previsões, alegações e citações. A greve não só aconteceu, como se tornou rapidamente a maior, tanto em número de adesões de instituições quanto de professores. A atual paralisação docente é claramente  incontestável, e os inúmeros prejuízos que ela traz também são.

Educação em Greve!

   Acho uma graça, contudo, que um evento de tamanha proporção – que trava boa parte do sistema educativo do país por mais de dois meses – tenha recebido tão pouca atenção dos principais veículos informativos do país. A imprensa quase se calou, e o próprio ‘quase’ é uma jogada política: ignorar o fato o tornaria grande; mostrá-lo pela metade o deixa bem mais fraco.

     Pois, tenha certeza que boa parte da população brasileira desconhece esse evento. Mas, qual o porquê disso? A greve foi deflagrada buscando uma justa adequação de salários e direitos e a imprensa que deveria dar apoio à mobilização, mostra-se contra... Estranho, não é? Mas, a resposta é simples: estamos no Brasil e, no Brasil, a “grande” imprensa costuma se calar quando pode entrar em conflito com aqueles que são atuais poderosos.

     Ponha na conta da Miriam Belchior e do Aloisio Mercadante, portanto, a não resolução desse impasse. A culpa não é, nem de longe, dos professores em greve, pois estes lutam por uma valorização de uma profissão que é, à longo prazo, sem dúvidas a mais importante. Ponha na conta de pessoas fracas, que vão empurrando com a barriga um problema que poderia por em crise um governo, mas que, aqui, certamente não passa de marolinha.

     E, por fim, não se preocupe: nada vai dar certo. A mídia quase se calou, e o povo está calado. Calado pela falta de informação, calado pelo próprio ócio político que nós mesmos nos impomos, calado pela tradição. Contra o grande governo populista que vivemos hoje em dia, somos a marionete; somos nada. Somos os leões adormecidos! Somos a nação do futuro...

Greve!

     Até quando? Não se sabe. Eu não sei. Mas, enquanto isso, boa parte do ensino universitário no país segue parado, a vida de muitos segue parada, e o futuro segue penando. Mudanças nos calendários acadêmicos estão por vir, e semestres inteiros podem não ter valido de absolutamente nada. E os inúmeros gastos que o próprio governo teve pra manter um semestre que, até agora, se desenha contraproducente? Põe na conta do contribuinte!

     Além disso, será que não pensam nos estudantes que não moram nas cidades de suas respectivas universidades e que continuam tendo gastos? Ora pois, porque preocupar-se com pessoas caladas, que preferem chamar de ‘férias’ o que está mais pra um ‘afastamento’? É isso que somos hoje: meros espectadores de um espetáculo de imenso mau gosto, sem nenhuma graça.

     E um espetáculo que pode não ter valido de nada. E se os professores não conseguirem o que querem? E se, por fim, o povo não vencer o corrupto governo que ele mesmo pôs lá? Enfim, e se o criador não conseguir vencer a sua terrível criatura? Então, aí, você põe na conta de você mesmo: você é o alguém que contradiz o nosso hino e, covardemente, foge à luta.

     Eu, na minha pequena contribuição, mesmo sendo lesado por o acontecimento da greve, peço aos queridos professores que tenham peito de continuar firmes em seus ideais, como fazem aguerridamente os seus colegas estaduais em greve há mais de três meses na Bahia. Aos meus colegas, futuros jornalistas, peço que, no futuro, façam uma imprensa melhor.

     Enquanto na muda, fico com a frase do Chico Buarque:  “Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal: ainda vai tornar-se um imenso Portugal!”. E você, o que você fez? Me diz, o que você faz? Fala, o que você acha?

Erratifique, seu sujeito! Blog sobrevive de comentários! ;)

12 comentários:

Saíze F. disse...

Seus comentários foram muito pertinentes! Infelizmente, vivemos numa sociedade alienada, onde a mídia não é, nem de longe, imparcial e fica à mercê de interesses políticos. Pelo menos na TV BA eu sinto uma 'pressão' maior com relação à greve, mas isso é fácil de entender, visto que a emissora pertence à família e ao próprio ACM Neto, opositor ao atual governador da Bahia. Enfim, o fato é que precisamos descruzar os braços, acordar pra realidade. Usar todos os recursos informativos que dispomos hoje a nosso favor. Só assim nos 'libertaremos' de verdade, dessa imobilidade. O povo tem que fazer valer o regime democrático.

Augusto Luiz disse...

A mídia calar-se, ou melhor, quase calar-se é uma vergonha pra esse país. Infelizmente,a mídia hoje é a divulgadora da iniquidade. Se ela não divulga, o povo não sabe... E se o povo não sabe, neguinho faz o que quer! O pior é que não estou muito convencido se a diferença entre o povo saber ou não é muito grande, infelizmente! =/
Obrigado pela visita, Ize! Beijoo...

Vegah. disse...

Esse texto é perfeito, que ele ganhe a rede de uma forma viral! ótimo texto para realizar o diálogo com as bases, sugiro que divulgue o mesmo para os docentes, para realizar diálogos com a estudantada!

victor disse...

concordo plenamente com você Augusto Luiz, Infelizmente a educação no brasil nunca foi prioridade para os governantes, sempre foi tratada com descaso, os profissionais desta área são desvalorizados.

Augusto Luiz disse...

Obrigado, Vegah. Acho muito difícil ele se tornar um viral, mas, ficaria feliz se ele chegasse à esse nível. Hoje, fico feliz por ele ter chegado à pessoas que pensam e que estão interessadas em agir. Adoraria que um professor manifestasse a sua opinião conosco. Volte sempre! =)

Victor, a educação no Brasile é vista como perigosa pelos nossos governantes. Afinal, como eles nos enganaríamos se fossemos inteligentes o bastante pra não sermos mais bobos fantoches?!

Coisas miúdas ou graúdas disse...

Oi!

Sim, blog sobrevive de comentários :)

Mas também é preciso que haja leitores críticos e sensatos, caso não, o Brasil e a leitura continuam mal das pernas.

Eu também ouvi aqui na UFG que não sairia a greve. Sai e estamos cada vez mais estudiosos da qualidade da educação (veja: http://www.greveufg.blogspot.com.br/)

E lá nesse blog tem um texto que dialoga muito com o seu e também foi escrito para que a sociedade entenda e faça seu papel: cobrar do governo!

Eis aqui: http://www.greveufg.blogspot.com.br/2012/07/quem-sao-os-culpados-pela-greve.html

Fora isso quero agradecer a boa leitura de domingo de tarde, enquanto milhões de brasileiros assistem ao que foi determinado pela mídia brasileira...

Saudações!

Cleiry Carvalho, pelo blog

Filipe Gullit disse...

Que excelente texto, meu amigo! Mas, é claro, não concordo com tudo que diz. A gente sempre costuma analisar a situação do nosso país colocando-nos como agentes passivos! Sim, isso mesmo, passivos! Até as greves são passivas, atenuadas, sem força...Fica evidente que há uma união das faculdades federais e de seus alunos, mas uma "união desunida", se é que me entende! Não há articulação entre os estudantes, não há há objetivos claros, não há protesto forte em todo o Brasil! Sendo assim, fica claro que essa é uma greve "meeira"... Tirando isso, sábias palavras as do teu texto. Parabéns e continue sendo essa "personalidade" que vc é!

Augusto Luiz disse...

Cleiry, é realmente muito proveitoso ter um professor aqui discutindo a greve, como já te disse no facebook. A sua colaboração é imensa! Espero que volte sempre, e possa compartilhar da sua sabedoria conosco! Os seus links são muito proveitosos. Obrigado pela visita! ;)

Meu amigo Filipe Gullit! Sábias palavras são as suas, que sempre tem uma opinião pertinente para qualquer assunto. Também acho que nós, estudantes, não estamos organizados, não estamos engajados no movimento. Enfim, espero que, um dia, possamos novamente ter no Brasil um 'movimento estudantil'. Torço pra que prevalesça a greve, em favor da melhoria do nosso sistema educativo. Abraço, meu amigo. Volte sempre, porque a casa é sua! :)

Pat disse...

Sou estudante da UFRPE e também estou sofrendo com a greve, estou no último período e ainda não pude me formar. E é claro, não culparei os professores por isto, pois estão lutando por seus direitos. Há muito tempo vêm sendo desvalorizados pelo país, cujo governo não dá a base necessária, seja no salário, melhorias em suas carreiras e entre outros. O dinheiro público não serve para "probleminhas" como educação e saúde, apenas para sustentar os luxos desses idiotas que todos nós brasileiros colocamos para administrar esta nação....
Seu texto Augusto,em minha humilde opinião, além de bem escrito, é o simples retrato de nossa realidade. Alienação em massa distribuída pelos veículos de comunicação... que quando não mostra retalhos da grande roubalheira que está por trás da política está valorizando o banal.
"Os meus inimigos estão no poder", já dizia nosso saudoso Cazuza.
Abraços e sempre que puder voltarei a seu blog para mais leituras proveitosas como esta :)

Augusto Luiz disse...

É realmente uma pena que a greve atrase tanta gente como você, 'Pat'. Corcordo com você: os professores apenas estão lutando por seus direitos, em face à esse governo corrupto. Os nossos inimigos estão no porder, Pat, e somos nós mesmos que os colocamos lá. Viva a sabedoria de Cazuza, e muito obrigado por a visita e a contibuição. Volte sempre, aqui sempre terá um texto à ser lido. Beijo! =)

Haddan disse...

Muito interessante seu texto e também os comentários que seguem sobre ele. Concordo com o que está escrito acima: que a maioria dos estudantes estão passivos em relação a greve, porém, isso ao menos onde moro tem certa culpa histórica pela falta de um organismo estudantil que deveria ter força. Mas para mudar essa realidade há estudantes que estão fazendo diversas manifestações para chamar a atenção da população de Campo Mourão e assim a greve ser um pouco mais divulgada. Desejo sucesso para você e que se os outros profissionais relacionados ao jornalismo forem como você podemos construir um país melhor.
Haddan Willian Guimarães

Augusto Luiz disse...

Olá, Haddan. Muito obrigado pela visita e pelos elogios também. Precisamos de um movimento estudantil unificado e forte se quisermos mudar algo na educação do país. Caso contrário, seremos apenas as mentes vazias que a mídia usará para divulgar o que bem deseja. Infelizmente, essa é a triste realidade. Volte sempre! Abraço, =)

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