Não discuta. E se você tiver um argumento muito bom, ou uma série de argumentos muito bons, continue não discutindo. Discutir com Fernanda é trabalho de português, é suor jogado fora. Se você insiste em querer convencê-la de alguma coisa, pode tentar, mas tente de todas as formas para não parecer uma discussão. Prove da maneira mais gentil possível, que você está correto; não diga que ela está errada, e reze, reze muito, para ela não sacar que você está tentando impor algo, mesmo que gentilmente; senão vira, inclina o rosto um pouquinho pra cima e vai-se embora.
Por que ela, incontestavelmente – e não conteste isso em um raio de 20m de mim -, é cabeça dura. A cabeça de Fernanda é tão dura, que um míssil recuaria antes de atingi-la. Poucos são aqueles que têm a grande honra, as excepcionais possibilidades, de lhe dar um conselho. E, se já é ínfima a possibilidade de ela ouvir o que você tem a falar, é quase inexistente a chance de ela seguir seu pitaco.
Por que, vejamos, quando o meu bêzão, te disser que com certeza irá fazer alguma coisa, aposte, quase sempre que ela irá fazer o justo contrário. É como se você, em um jóquei, tivesse sempre que apostar no cavalo que ela menos gostar, porque é nesse que ela vai, e é esse que vai ganhar. É da natureza louca dela. Louca. Tá pra nascer alguém tão maluca.
Primeiro, pela própria filosofia de vida que ela leva. Ela sorri. Simplesmente isso: Fernanda sorri pra tudo, inclusive para os grandes problemas. Não se espante se um dia a vir sorrindo em um enterro, pois o faria sim, e o faria para esconder as lágrimas, das quais ela não gosta. O seu riso, quase sempre presente, não deixa escapar as águas que saem dos olhos; não queira vê-la chorar, é feio, é estranho, não combina com ela. Por que dela sempre se espera a gargalhada descontrolada, louca, alta e contagiante. A risada mais linda que eu conheço.
Segundo, por ela gostar de ser louca. Ah, ela gosta, a gente se incomoda, eu não. E ela não se importa - qualidade dos loucos – com o que falam/pensam. Portanto, pode pensar mal, falar mal, por as costas, pela frente ou por os lados, até. Por que, as chances dela se ver às avessas com você são mínimas. Estaria comprando briga comigo, só isso.
Mas, tudo isso acaba quando ela se irrita. Então se pode ver a pessoa mais racional do mundo em ação. Um lado que mostra pouco, mas que faz parte de sua personalidade. O Ministério da Saúde adverte: não irrite/estresse/cutuque Fernanda Gonçalves Santos; sob o risco de pôr em cheque o bem-estar do planeta, ou o futuro da humanidade. Ela se descontrola, mostra a tigresa escondida por sob a face divertida, sob a vivacidade alegre exprimida nos ‘pouco importa’, ‘ por mim’ ou ‘quero os meus pontos’.
As consequências disso – chamar à tona a tigresa – são tão graves que estressam todos que estão em volta. Porém, se você é assim como eu, ri. Ri muito. Seria realmente trágico, se não fosse hilário.
Contudo, devo dizer que também me irrito às vezes – muito poucas, quase nunca – com ela. E ela já sabe o caminho, quando quer fazê-lo: eu erro, peço desculpas e ela olha na minha cara, e diz, sem sorrir, “Relaxe, tô de boa”. Custava apenas desculpar?! Fico uma arara por isso, por alguns minutos.
E tudo é encoberto, e tudo é ínfimo perto do bem-estar que sinto ao seu lado. E as palhaçadas que ela faz? E as décadas de minutos que passamos sorrindo da mesma coisa, até lacrimejarmos? São momentos únicos que não cabem nesse singelo post.
Enfim, não dá pra não dá pra não gostar do jeito ímpar com que ela fala ‘Eu te amo’ – dádiva que apenas alguns (posso contar com os dedos de uma mão) conseguem. E a certeza da reciprocidade. Aliás, quando ela tenta mentir, dizendo que não me gosta, que não me ama, dô um sorriso amarelo, de sarcasmo e ironia e penso: “Fala Sério, Fernanda!”.
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Primeiro, da trilogia comemorativa de aniversário.