O filme já estava no auge da sua metade e eu o estava achando horrível. O roteiro era de, basicamente, morte e sangue, sangue e morte, e tinha um pouco de beijo também, em meio ao líquido vermelho que usaram de dublê, é claro. Seria nojento, se a gente não soubesse que eles usam algo artificial pra ilustrar o circulante das veias, ou pelo menos torço pra que façam mesmo isso.
Infelizmente, ninguém parecia compartilhar do meu gosto, estavam todos absortos nele, à exceção da garota ao meu lado. “Era hora de conhecê-la”, pensei. Aliás, mentira. “Era hora de agir”, pensei. Com um toque em uma de suas mãos chamei-lhe a atenção e, num sussurro, lhe questionei:
- Qual o seu nome?
- Fernanda, Fernanda Souza – disse; doce como mel, essa voz tava me tirando a concentração e oprimindo o juízo que eu ainda tinha, perguntaria qualquer asneira ou idiotice só para ouvi-la falar, e estava me esforçando para não fazer isso. – E o seu?
- Augusto, Augusto Luiz – E ambos sorrimos.
Ainda estava impressionado com a voz, e continuava procurando o chocolate em minha boca quando o filme me pareceu o melhor assunto pra puxar assunto.
- Bastante violento, não?
- Bastante. Na verdade já to enjoada com tanto sangue – colocou a mão defronte a boca e sorrimos da sua pequena encenação dramática.
- Eles estão gostando... – continuei, apontando para o resto da galera.
- Não sei como, viu? – meneou a cabeça, negativamente – Você parece que não tá gostando...
- É, num to não. Na verdade, a sua companhia tá melhorando muito isso aqui. – galanteei.
Pareceu constrangida e deu um sorrisinho, de leve, quase imperceptível. Isso despertou em mim uma sensação de confiança, era quase um sussurro na boca do ouvido, que dizia: “Vai, meu filho, ela tá afim. Vai fundo, parceiro!”. É algo que só se sente lá, na hora, quando o coração, batendo mais forte e rápido, se enche de certeza.
- Gentileza sua – Ela falou após. Estava afim. Até a pessoa mais burra, imbecil e lerda do mundo, que no caso, no momento e circunstância era eu, já havia percebido isso.
- Olha, eu não to nem um pouco disposto a assistir esse filme. Será que cê pode me ajudar a não ter que assisti-lo? – Uma cantada evasiva; qualquer sintoma de recusa e temos as peças para contornar a situação. Deu certo, dava pra ver no rosto dela.
- Como? – Não havia mais jeito, ela era minha e eu sabia disso.
- Assim... – Aproximei-me dela até que nossos lábios estivessem colados; o beijo.
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Três de Três, do triênio romântico.
2 comentários:
Gosto desse texto! =)
A riqueza de detalhe faz com que eu construa as cenas na minha mente!
Parabéns, Gu!
Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência ???
Rsrsrssrsrr......
O texto ficou bom mesmo !
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