Era linda. Tanto que ultrapassava quaisquer que fossem minhas pretensões. Era demais para mim, e eu sabia disso. Portanto, não encare qualquer ação minha senão como loucura, ousadia ou coragem. Mas, prefiro dizer que foi audácia.
Realmente não queria saber de sair naquela noite de sexta – o que era meio estranho, já que amo sair às sextas, na faixa da lua. Mas, o fiz, sob uma incomum influência de alguns. Fomos à praça, na qual havia uma temperatura agradável, um sonzinho – voz e violão – fantasticamente romântico, e um cheiro de ar puro que há muito não via.
Encostei-me no cais, juntamente com meus acompanhantes, e foi então que a vi chegar.
Já a tinha visto algumas vezes, já havia inclusive falado com ela, mas não havia sequer nenhum motivo para sentar-se ao meu lado, como ela o fez em seguida. Cumprimentamo-nos. Eu, que devia sentir a naturalidade de quem nada espera, estava um tanto abalado pela beleza ao meu lado.
Inesperadamente, surgiu um papo um tanto sério em meio à gandaia dos demais. Entreguei-me totalmente a conversa, encantado por tamanha presença. Aos poucos, todos foram se retirando, para outros afazeres, e nós não percebemos. Mas, apenas posso garantir que eu não percebi.
Ela tinha um papel em mãos, que julguei estar em branco, e este voou com o vento. Já fazia frio, e, embora eu ame o frio, estava incomodado; não por mim, mas por talvez ela não estar bem. Fui apanhar o papel, que fugia do meu alcance, com cada rajadinha a mais.
Quando enfim consegui, estava há uns dez metros dela. Ao virar-me, deparei com um sorriso de meia boca, extremamente cativante, apaixonante para qualquer cristão. Não era um riso de agradecimento pelo papel, ou pelo esforço; tampouco era de comicidade por a situação. Era aquele sorriso, aquele que me encheu de uma esperança repentina e de uma coragem pesada, de enorme que era.
Depois, veio o olhar. Um olhar convidativo, levemente malicioso. Um olhar que endossava minha ousadia, minha certeza em algo tão imprudente e impensado, completamente irracional e louco. Fui andando até ela, com o papel já muito molhado de tanto suor, as pernas bambas e o juízo completamente exilado.
Juro que em algum momento pensei em fugir, sair correndo antes de fazer alguma besteira. Mas, antes que pudesse sequer cogitar a possibilidade real de fazê-lo, já estava em frente à ela, entregando-lhe o seu pertence. Cheguei bem perto, quase em um abraço, tentando ser galante. Pus meu nariz em frente ao dela, e meus olhos não suportaram a intensidade daquela lindeza. Fecharam-se, e nem mesmo percebi a frase que fugiu dos meus lábios, tão próximos dos dela, em um sussurro pedinte, ansioso, maluco:
- Beija eu?!
E então a noite pareceu curta demais...
1 comentários:
huuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuum"
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