28 agosto 2012

PT x Sindicatos

     Como todos os casos de amor mantidos por interesses tem seu fim, aquele vivido pelo Partido dos Trabalhadores (PT) com os sindicatos não tardaria a findar-se. Até que durou por muito tempo, é verdade, mas o elo histórico não sobreviveu e agora, rompido, faz com que ambos sigam caminhos diferentes e divergentes. E nós, é claro, sofremos como os filhos de uma separação.

      Porque quando o governo resolve enfrentar os sindicatos, e a sindicância decide afrontar os que gerem, os espólios da guerra respigam exatamente no povo. Quem não se lembra da greve dos policiais militares no estado da Bahia, quando as ruas baianas mais pareciam estar dentro do Afeganistão em guerra? E quem lembra, sabe que o povo foi vítima de mais um embate.

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     Agora, com o rompimento clarividente entre dois aliados históricos, vimos aproximar uma onda de greves que há muito não víamos. Ela, com sua força estridente – embora fosse previsível que viria -, mexeu com a relativa estabilidade que vivíamos, e fez o solo sobre o qual se estende o Palácio do Planalto e o Congresso Nacional tremerem como somente um bom terremoto faria.

     O PT traiu seus ideais históricos, e isso não é novidade pra ninguém. Mudou assim que assumiu – ou talvez antes de ter assumido – o governo e, obviamente, isso não foi de comemorações por parte dos seus antigos aliados e antigas proximidades que estavam ali, além do interesse, também por ideias próximas.

     A questão é que Lula foi, durante todo o seu governo, um exímio negociador e conseguiu manter os sindicatos relativamente próximos de si e de sua figura paternal e, então, cultivou-os calados de contentamento. À exceção do começo de seu mandato (2003-2005), sempre tratou a força sindical como de um enorme potencial – perigoso -, e tratou de mantê-la neutra.

     Dilma, porém, tem muito mais de Fernando Henrique do que de Lula. Além de planejar uma nova gigantesca onda de privatizações, ela mantém a postura firme que o presidente FHC teve durante os seus mandatos. Em outras palavras, o Governo de Dilma Rousseff parece ser bem mais pautado no conflito do que na diplomacia. Assim, ela é enérgica e parece irredutível.

     Tem que lidar, a presidente, com uma situação complicada. Durante anos as classes que hoje requisitam reajustes e melhorias foram subjugadas pelos governos anteriores e hoje tem, por mérito e justiça, o direito manifesto de exigirem reparos. As melhorias devem ser feitas, e feitas para que ambas as partes saiam satisfeitas com o acordo e a economia permaneça saudável.

     É basicamente assim: os reajustes devem ser dados sem que isso comprometa o orçamento mas, também, atendendo boa parte dos requisitos grevistas que são justos e plausíveis. O Brasil tem dinheiro – todos sabem disso – e tudo isso é apenas uma questão de planejamento, e ética que deve ser realizado sem tornar, contudo, o país vítima dos sindicatos.

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     O que de fato – até agora - Dilma não conseguiu nem de longe. Ao contrário de tentar chegar a um acordo que traria paz à sua governabilidade, a presidente resolveu ser rígida e não ceder. Manteve vivo o risco de o Brasil parar, comprometendo assim os seus próprios planos de governo. Aliada a uma mídia complacente e cada vez mais calada para assuntos desse tipo, impôs fraqueza ao movimento grevista, e, salvo engano, o fez calar-se.

     A história mostra que nunca é saudável calar, com o uso da força, movimentos de tamanha proporção. Depois, voltam com mais força! Já pudemos constatar nesses meses de greves por todo o país, que o silêncio forçado à uns gerou o desencadeamento de outros – aliados, é claro com os fatos primordiais pra desencadear uma greve – e gerou o efeito dominó que vimos.

      Efeito que está longe de acabar, em minha opinião. O modo do governo de condução pras greves foi pífio e as elas não foram resolvidas - aplicou-se, ou se está aplicando uma medida provisória para estancá-las; e a insatisfação das classes logo fará com que novas greves surjam e as antigas conhecidas ressurjam com ainda mais força. Foi um tiro no pé, eu diria...

      E um tiro no pé do povo também, como anteriormente eu havia dito. Pois, além de tudo o que foi feito (malfeito), o governo ignorou uma regra básica para lidar com as greves: a rapidez. Em todo o caso, acabar rapidamente com uma greve é fazer com que a população não pague por erros administrativos ou históricos. É fazer com que o povo saia menos ferido nesse cenário.

      No entanto, não pensaram nos direitos grevistas. E, ainda menos, não pensaram no bem estar da população que os pôs lá para lutar por seus direitos. Novidade? Ora, não sejamos ingênuos! Isso é, sempre foi e por muito tempo será um sonho (pesadelo) chamado Brasil.

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