Esses dias peguei-me preparando um café, mais doce que o de costume, e pegando um surrado livro de poesias do Drummond. Entre as dores, felicidades, amores, amantes, pedras no caminho e outras estórias do poeta, não pude deixar de cair em um mar de lembranças que pessoas como o Carlos chamam de saudade, e eu gosto e prefiro chamar de saudosismo.
Cair, nadar por toda a sua imensidão, sorrir por sua beleza, morrer de exaustão. Porque é doce morrer nesse mar de lembrar-se e nunca se esquecer de tudo o que a gente um dia já amou, ou ainda ama. Amor é feito de poesia, e poesias fazem amor; tudo quanto é poesia tem um quê do que nós fomos algum dia, e o café faz a gente viajar, se perder, faz-nos vivos.
Daí é impossível não lembrar, quando se vaga pelas palavras em rimas e pelo líquido negro e doce, de uma página que sempre me toma uma grande atenção nas horas distraídas que, sempre que posso, passo no Facebook. É uma graça, uma coisa fofa e de uma singularidade que só as misturas poderiam causar, e causar é bem a causa da página, se estou certo.
Causar a aventura de conhecermos os mais vastos extremos da nossa poesia, desde o próprio Carlos, até os Andrades. Quem sabe dar uma passada nos quereres de Caetano, ou dar uma espiada nas belezas e intensidades das mulheres de Chico? Amar como Pessoa, iludir-se com Camões; ser maluca como Clarice e meiga como a Cora. Sim, a Cora Coralina.
E tudo isso na intensidade em que deve ser: poesia requer paixão para falar de amor. Intensidade na veia irrigando um cérebro que vibra, varia, enlouquece. É muito sentimento pra sintetizar, pra racionalizar. O coração, por sua vez, se torna elástico e abriga à tudo – desde as dores dos poetas que sequer conhecemos de vista, até os amores que os fizeram sorrir.
Portanto, é de admirável coragem que alguém tenha ousado mostrar o lado bonito do mundo, o lado que vale a pena ser visto; é admirável a ação, o gesto, tanto quanto as poesias. Esse mundo cruel precisa disso: precisa de gente que diga que ele não é tão ruim, ou que diga em versos bonitos o quanto ele é feio... O mundo precisa de poetas, e de ideias.
Assim, naquele dia, infelizmente tive que fechar o velho livro que o – ainda novo – poeta fez pra mim, acabar logo o cafezinho e voltar pra realidade enfadada. Porque, além de sonhar, lembrar, e amar, precisamos também viver; pois, mesmo que o Raul querendo muito, e nós querendo com ele, não podemos parar esse mundo e, ainda, não podemos descer.
Aliás, viva Raul! E o Café com Poesia...
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